Armstrong foi patrocinado pela Nike por 30 anos |
A maior marca de artigos esportivos e ex-patrocinadora de Lance Armstrong, a Nike foi defendia por uma escola de negócios que emitiu uma nota sobre o caso e contou como foi feita a escolha de Lance como seu garoto propaganda.
Abaixo leia a nota:
Por Marcos Hiller*
A
maior farsa de todos os tempos! Um falso atleta que enganou gerações de
esportistas, a opinião pública e a Nike, marca reconhecida, admirada e
valorizada como uma das maiores do planeta. O ciclista Lance Armstrong foi um
espetáculo midiático nos últimos anos. Venceu sete títulos da Volta da França, se tornou um ídolo
mundial, vendeu muitos livros, roupas e pulseiras (aquelas
amarelinhas que viraram moda). Hoje é o protagonista de um dos maiores casos de
doping e de unbranding da história,
se não o maior. Após ter tido seus títulos cassados no ano passado, admitiu
pela primeira vez que utilizou substâncias proibidas, em entrevista a
apresentadora americana Oprah Winfrey. O programa só deve ir ao ar nesta
quinta-feira (17), mas o assunto já é notícia em todo o mundo.
A
Nike enxergou em Armstrong um casamento perfeito. Sob a ótica de branding, tudo conspirava a favor. Lance
Armstrong possuia claros atributos como superação, alta performance,
conquistas, vitórias, tudo que se encaixava como uma luva no DNA da Nike, que
também vende esses atributos no seu processo de comunicação de marca.
A
parceria foi feita e rendeu ganhos relevantes para as duas partes. A
pulseirinha amarela virou marca registrada de Lance Armstrong e era vendida nas
lojas Nike por um dólar. Milhões delas invadiram o mundo, estampando simbolicamente
o pulso de atletas profissionais, amadores, ou de final de semana, das mais
diversas modalidade esportivas, que também queriam ser identificados como um indivíduo
que rompe barreiras, que é bom no que pratica, que não é mais um. Na Nike Town,
a loja de cinco andares próxima à quinta avenida em Nova Iorque, a Livestrong
tem um belíssimo espaço exclusivo para venda de seus produtos. Mas o fato é que
agora todo o encanto acabou. Desde o final do ano passado, as lojas da Nike, em
Orlando, já exibem nas araras peças da Livestrong com descontos agressivos,
impensáveis até então. Nike e Lance Armstrong foi um case de branding muito bem construído e que hoje
desmorona diante dos nossos olhos.
O
uso de celebridades-ícones é uma prática muito habitual. A atriz Michele Pfifer
com a marca Lux Luxo nos anos 80, Cindy Crawford com a marca Rolex nos anos 90,
e mais recentemente Gisele Bundchen associando sua imagem a marcas como Colcci
e Pantene. Elas possuem uma aura mítica, bela e sedutora, sempre desejável. Afinal,
a beleza pode ser um prenúncio da felicidade. Ao tomar a decisão de se associar
a uma celebridade, a marca está claramente assumindo riscos em nome de um
calculado ganho exponencial de lembrança de imagem que, logicamente, se reverte
em vendas. Mas, por menor que possa parecer, o risco sempre existe.
Outros
casos similares ainda estão na lembrança da opinião pública. Nos Estados Unidos
temos casos parecidos de outros atletas que se envolveram em escândalos como OJ
Simpson, Magic Johnson e mais recemente, o golfista Tiger Woods. Aqui no Brasil
há histórias emblemáticas, como Ronaldo Fenômeno. Quem poderia imaginar uma
crise de imagem de um craque-ícone de superação, que sempre foi visto com belas
mulheres e maior goleador da história das Copas. Ninguém. Mas infelizmente
aconteceu. E certamente quando o episódio veio à tona, as diretorias de
marketing de Nike e de Ambev reavaliaram com muito cuidado os seus respectivos
e gordos contratos publicitários com o R9. O craque agiu rápido, foi dar
explicações para Patrícia Poeta no Fantástico, além de outras ações que
contiveram rapidamente a mancha de óleo no oceano. Conseguiu passar uma
borracha em tudo. A prova disso é que foi para o Corinthians e o resto da
história já sabemos. O Fenômemo é hoje adorado por todos, acabou de ser estrela
do quadro “Medida Certa”, do mesmo Fantástico, e é um dos embaixadores da Copa
do Mundo no Brasil.
Só
o tempo nos dirá como a Nike irá se comportar diante desse escândalo com Lance
Armstrong e se isso afetará negativamente a imagem da marca. Por maior que
possa ser a gravidade do ocorrido, a Nike permanece blindada. Fica o arranhão,
fica um sangramento que só o tempo nos dirá quando será entancado. Nike tem um
legado consistente, possui um símbolo com fortes alicerces e está acima de tudo
isso. Mas certamente avaliará com mais cuidado as celebridades esportivas a que
associará sua marca. Para as marcas que trabalham nessa linha, especialmente as
não tão sólidas quanto a Nike, fica a lição. Pesquisa, diagnóstico, avaliação,
análise e desenho de cenários nunca é demais para reduzir a margem de risco
quando se trata de marca, imagem e reputação.
*
Marcos Hiller é coordenador de Marketing, Consumo e Mídia Online da Trevisan
Escola de Negócios.
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